Segunda-feira, 21.09.09

e em meu olhar.

 

Este fim-de-semana fui ao Alentejo. Fui a Viana do Alentejo na qualidade de apresentadora do último livro do amigo e poeta José-Augusto de Carvalho, intitulado "o meu Cancioneiro".

 

Aqui vos deixo excertos do texto base da apresentação desejando que vos estimule á leitura deste poeta.

«Ao lermos um livro há sempre muito do autor - da pessoa que é - que para nós passa. Que captamos – assim o julgamos. (...)

    José-Augusto de Carvalho é, em minha opinião, um homem fora do tempo.
(...)é um homem de valores, convicções e...palavra. Daí o desfasamento (...)Sabe, acima de tudo, o sentido e o valor da “alteridade”.
 Sabe que ele é o outro, da mesma forma que o outro é, ou pode ser, a qualquer momento, ele/cada um de nós. (...)os seus sonhos e projectos são-no no colectivo.
     (...) Fernando Pessoa afirmou que a poesia é uma forma de prosa em que se cria um ritmo artificial, através de: 1) pausas especiais - diferentes das que a pontuação define embora por vezes possam coincidir; 2) escrita do texto em linhas separadas, denominadas versos. Desta forma o autor/poeta cria 2 tipos de sugestões características à escrita poética: 1) sugestão rítmica/métrica, de cada verso por si; 2) sugestão tónica incidindo na última - ou única palavra do verso (se for o caso).
    porque sente o poeta a necessidade de criar um ritmo artificial?
   – porque a emoção intensa não cabe numa simples palavra.
     Daí a necessidade de criar uma musicalidade rítmica exterior à palavra – só por si – mas, que desta forma é contida no verso, no poema. Como se num cálice.
     (....)Toda a ideia perfeitamente concebida é rítmica, por si e em si, e é isso que José-Augusto de Carvalho, mais uma vez, nos oferece com este Cancioneiro.
   O ritmo, a rima, a estrofe são instrumentos disciplinadores da emoção de forma a exprimi-la não na forma tumultuada que é própria das emoções, mas num grau superior de controlo imposto pela disciplina destes três elementos. (...)Neste Cancioneiro, José-Augusto de Carvalho pega, com mestria, nas quadras em redondilha, maior e menor, nas estrofes e nas sextilhas, usa sabiamente o ritmo e a métrica para, numa linguagem actual, entrosar passado, presente e futuro deste povo que somos.
 
Os grandes momentos definidores da nossa identidade – porque é disso que se trata nesta obra aqui ofertada a todos - de reconhecer, aceitar, acarinhar e manter a nossa identidade que de Castela nos separou – são abordados:
desde as batalhas, Álcacer-Quibir; Salado; Aljubarrota; às cruzadas –fora e dentro do espaço que hoje constitui o Portugal luso (ver p:40 -Cantiga de amigo: “A dívida” em que enuncia as batalhas Aquém Tejo e Além do Tejo – dado que a Portugalidade se estende por muitos continentes  -aos nossos mitos e lendas;ao Bandarra e sua adivinhação;aos milagres estruturantes da nossa cultura.
    Dedica o poema “Quase uma oração: 42” a um tema tão português como “SAUDADE”. Desmonta o conceito em várias das suas vertentes, ou dimensões. “Saudade palavra linda...”, mas linda, porquê?
 
Porque alimenta a esperança do retorno e do reencontro. Mas o mesmo sentimento, saudade, cria ansiedade, desesperança, angústia:
“ ...E a desventura detenha/ p’ra que no peito eu mantenha/a bater, meu coração(...)”
na última estrofe deste poema pede alento a Deus, pois a dor é tão grande que se torna destruidora. O autor implora que este sentimento se transforme. Mostra-nos a saudade como algo potencialmente transformador:
 “ Ai, que esta dor que alimento/seja, na massa o fermento/do pão da vossa clemência.”
 
   (...) Neste belo cancioneiro, do intimismo da alma, num registo mais pessoal ressoa forte um grito humano e social a que não podemos ficar indiferentes se queremos que A VIDA SEJA VIDA e não seja um qualquer ZAGAL a comandar-nos.
 
Conceição Paulino
 

estou

publicado por Conceição às 19:30 | link do post | comentar | favorito

generalista sobre literatura e a vida. Assim acaba por integrar análise sócio-política pois toda a vida nela está imersa.
e sobre mim...
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