Ao longo dos anos tenho escrito vários textos sobre a rua onde moro a que chamo a “minha rua”.
Dela digo que sendo no meio de uma cidade aparenta uma rua de aldeia pelo sossego, pelos gatos e cães que circulam, pelos galos que pelas cinco horas nos acordam com seu fervoroso cantar, pelos pássaros que nela fazem morada e louvam a vida numa chilreada sem fim dando-nos, no geral, uma sensação de paz e harmonia que logo ao fundo dela se perde no turbilhão dos motores e das pressas.
Dela tenho dito: “a minha rua é um rio”!
É um rio de serenidade e dourada luz por onde o sol entra quando nasce e que toda percorre ao deitar-se assim de nós se despedindo. Sendo um rio de luz e serenidade é também um lugar de segredos e magias de que por vezes logramos desvendar um pouco.
Esta noite, esta madrugada, a minha rua foi, no sentido absoluto, um rio.
As águas que do céu tombaram em catadupa foram de tal ordem que na vigília do sono agradecido não se ouvia chover. Ouvia-se sim um rio bramir na revolta das águas por correndo.
Antes um rio de luz transformada agora em rio de águas correndo fortes.
Conceição Paulino
S. Mamede de Infesta, Terça-feira, 20 de Outubro de 2009
as sete horas da manhã aproximam-se e só agora o céu mostra uma cor menos escura acusando o raiar da luz que já deu a volta ao mundo sem se importar de quem roda ou deixa de rodar ao redor de quem.
Acompanhei os resultados das eleições pela TV, Depois dormi um pouco, mesmo pouco, e sentei-me aqui a ler um livro-"que-há-de-ser", de um amigo que existia sem eu saber e me deu o privlégio de o ler antes.
Fascínio e encantamento na sua forma de dizer escrevendo.
Escrevo ao sabor da pena que é a leveza dos dedos no teclado. Leves como uma pena obedecendo a pensamentos que se lhes impõem e que desconheço só deles sabendo quando os dedos formam palavras sequênciais que se tornam frases.
O fascínio pela leitura do que escreve lembra-me a contadeira de contos e encantamentos que foi minha avó materna, de seu nome Adelaide.
Ambos re-criando a magia com as palavras tecidas. Uma na oralidade, (mulher de preto vestida que bem poderia ser uma das velhas do romance) o outro passando-as à forma de letra.
Tão distantes no tempo cronológico, na cultura de base e tão próximos afinal nas linhas do tempo.