Terça-feira, 20.10.09

 

Ao longo dos anos tenho escrito vários textos sobre a rua onde moro a que chamo a “minha rua”.
Dela digo que sendo no meio de uma cidade aparenta uma rua de aldeia pelo sossego, pelos gatos e cães que circulam, pelos galos que pelas cinco horas nos acordam com seu fervoroso cantar, pelos pássaros que nela fazem morada e louvam a vida numa chilreada sem fim dando-nos, no geral, uma sensação de paz e harmonia que logo ao fundo dela se perde no turbilhão dos motores e das pressas.
 
        Dela tenho dito: “a minha rua é um rio”!
É um rio de serenidade e dourada luz por onde o sol entra quando nasce e que toda percorre ao deitar-se assim de nós se despedindo. Sendo um rio de luz e serenidade é também um lugar de segredos e magias de que por vezes logramos desvendar um pouco.
Esta noite, esta madrugada, a minha rua foi, no sentido absoluto, um rio.
As águas que do céu tombaram em catadupa foram de tal ordem que na vigília do sono agradecido não se ouvia chover. Ouvia-se sim um rio bramir na revolta das águas por correndo.
Antes um rio de luz transformada  agora em rio de águas correndo fortes.
 
Conceição Paulino
S. Mamede de Infesta, Terça-feira, 20 de Outubro de 2009

estou bem

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Segunda-feira, 21.09.09

e em meu olhar.

 

Este fim-de-semana fui ao Alentejo. Fui a Viana do Alentejo na qualidade de apresentadora do último livro do amigo e poeta José-Augusto de Carvalho, intitulado "o meu Cancioneiro".

 

Aqui vos deixo excertos do texto base da apresentação desejando que vos estimule á leitura deste poeta.

«Ao lermos um livro há sempre muito do autor - da pessoa que é - que para nós passa. Que captamos – assim o julgamos. (...)

    José-Augusto de Carvalho é, em minha opinião, um homem fora do tempo.
(...)é um homem de valores, convicções e...palavra. Daí o desfasamento (...)Sabe, acima de tudo, o sentido e o valor da “alteridade”.
 Sabe que ele é o outro, da mesma forma que o outro é, ou pode ser, a qualquer momento, ele/cada um de nós. (...)os seus sonhos e projectos são-no no colectivo.
     (...) Fernando Pessoa afirmou que a poesia é uma forma de prosa em que se cria um ritmo artificial, através de: 1) pausas especiais - diferentes das que a pontuação define embora por vezes possam coincidir; 2) escrita do texto em linhas separadas, denominadas versos. Desta forma o autor/poeta cria 2 tipos de sugestões características à escrita poética: 1) sugestão rítmica/métrica, de cada verso por si; 2) sugestão tónica incidindo na última - ou única palavra do verso (se for o caso).
    porque sente o poeta a necessidade de criar um ritmo artificial?
   – porque a emoção intensa não cabe numa simples palavra.
     Daí a necessidade de criar uma musicalidade rítmica exterior à palavra – só por si – mas, que desta forma é contida no verso, no poema. Como se num cálice.
     (....)Toda a ideia perfeitamente concebida é rítmica, por si e em si, e é isso que José-Augusto de Carvalho, mais uma vez, nos oferece com este Cancioneiro.
   O ritmo, a rima, a estrofe são instrumentos disciplinadores da emoção de forma a exprimi-la não na forma tumultuada que é própria das emoções, mas num grau superior de controlo imposto pela disciplina destes três elementos. (...)Neste Cancioneiro, José-Augusto de Carvalho pega, com mestria, nas quadras em redondilha, maior e menor, nas estrofes e nas sextilhas, usa sabiamente o ritmo e a métrica para, numa linguagem actual, entrosar passado, presente e futuro deste povo que somos.
 
Os grandes momentos definidores da nossa identidade – porque é disso que se trata nesta obra aqui ofertada a todos - de reconhecer, aceitar, acarinhar e manter a nossa identidade que de Castela nos separou – são abordados:
desde as batalhas, Álcacer-Quibir; Salado; Aljubarrota; às cruzadas –fora e dentro do espaço que hoje constitui o Portugal luso (ver p:40 -Cantiga de amigo: “A dívida” em que enuncia as batalhas Aquém Tejo e Além do Tejo – dado que a Portugalidade se estende por muitos continentes  -aos nossos mitos e lendas;ao Bandarra e sua adivinhação;aos milagres estruturantes da nossa cultura.
    Dedica o poema “Quase uma oração: 42” a um tema tão português como “SAUDADE”. Desmonta o conceito em várias das suas vertentes, ou dimensões. “Saudade palavra linda...”, mas linda, porquê?
 
Porque alimenta a esperança do retorno e do reencontro. Mas o mesmo sentimento, saudade, cria ansiedade, desesperança, angústia:
“ ...E a desventura detenha/ p’ra que no peito eu mantenha/a bater, meu coração(...)”
na última estrofe deste poema pede alento a Deus, pois a dor é tão grande que se torna destruidora. O autor implora que este sentimento se transforme. Mostra-nos a saudade como algo potencialmente transformador:
 “ Ai, que esta dor que alimento/seja, na massa o fermento/do pão da vossa clemência.”
 
   (...) Neste belo cancioneiro, do intimismo da alma, num registo mais pessoal ressoa forte um grito humano e social a que não podemos ficar indiferentes se queremos que A VIDA SEJA VIDA e não seja um qualquer ZAGAL a comandar-nos.
 
Conceição Paulino
 

estou

publicado por Conceição às 19:30 | link do post | comentar | favorito

generalista sobre literatura e a vida. Assim acaba por integrar análise sócio-política pois toda a vida nela está imersa.
e sobre mim...
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