Há coisas do arco da velha.
Cedinho, pela manhã, saí para uma caminhada.
Antes de entrar na zona mais rural atravesso as principais artérias desta cidade onde moro.
Ao chegar a um cruzamento o semáforo para os peões ficou vermelho - não de vergonha nem de raiva - tão só a avisar que o trânsito ia mudar e que os peões se deveriam quedar no passeio, em resguardo.
Obedeci. Parei e fiquei estática. Fiquei? O corpo que habito ficou.
Continuei obedientemente parada no passeio.
Às tantas, do trânsito parado - em função de um outro semáforo - à minha esquerda, saiu disparada uma motorizada que rápida atravessou o cruzamento com o relincho feliz e habitual a estes animais perdendo-se na lonjura da rua que ali se estende a direito até longe para a nossa humana vista.
Continuei a segui-la com o olhar enquanto no cérebro marteleva o pensamento: mas que lhe deu? Avançou com o sinal vermelho?
Já ela desaparecera de vista quando me apercebi que o sinal vermelho, que continuava, era para os peões. Eu, parada, avaliava o movimento da motorizada em função de um dado registado no cérebro, sem relação com o movimento daquela.
Ainda não percebi por onde é que eu andava.